Imagine que você está em uma festa. Várias bandejas circulam pelo salão e a todo momento uma diversidade de iguarias é oferecida a você. Canapé ao funghi, casquinha de siri, carpaccio de abobrinha, crocante de frango com gergelim, só para citar alguns pequenos momentos de grande felicidade. E como não poderia faltar, a melhor parte: amor em pedaços, bombom nevado, bombom trufado, bombom de nozes, cereja, morango; brigadeiro de pistache, amêndoas, limão siciliano, cachaça. Aceita mais um?
Que coisa estranha. De repente a música acaba, o papo emperra e as iguarias mudam de nome: empada de jiló, trouxinha de bacalhau com zero sal, croquete de marimbondos, papelotes de limão (capeta). “Festa estranha, com gente esquisita. Eu não tô legal”, cantaria Renato Russo.
C´est la vie. De bandeja (nem sempre), a vida nos oferece momentos deliciosos (alguns simplesmente divinos) de alegria, farra, riso, encontro, boas energias, prazer. (Mais um brigadeiro, por favor, vou cometer essa heresia.) Eu quero, eu posso, eu mereço.
Outros momentos, fazer o quê, nem sempre nos apetecem. Aquela vizinha amarga que não te dá bom dia no elevador. Aquele namorado sem sal que (não me leve a mal) só te desanima a cada encontro. A irmã que cospe marimbondo quando você simplesmente faz uma pergunta. O professor que não aprendeu a sorrir, muito menos ensinar, e acaba azedando o seu dia. Quebra de sintonia, fim de festa, sinto lhe dizer.
O menu é básico e bem desagradável de se ler: irritação, mau humor, azedume, impaciência, cólera, emburramento. Quem nunca se sentiu assim que dance um chá-chá-chá bem no meio do salão.
Quer você goste ou não, faz parte da vida se aborrecer de vez em quando. O problema é quando o de vez em quando vira de vez em sempre. O preocupante é quando você acha normal se empanturrar de jiló ao invés de degustar um canapé de queijo brie. Dá uma reciclada no gosto e vai provar outros sabores por aí. Faz terapia, teatro, careta, poesia, encontro de amigos pra trocar ideias e se conhecer um pouco mais.
Agora, se você está de boa como diz o outro e começam a te empurrar bandejas estranhas por aí, despejando comidinhas que não fazem sua alegria muito menos uma boa digestão, num aceita não. Rebata com um simples e simpático “muito obrigado(a)”.
MCCR diz
Renata,
Seu post relata muito bem o que a vida nos oferece: dois tipos de cardápio, sendo um delicioso, com iguarias selecionadas, regadas à música e alegria, uma farra só. Mas a vida não é feita só de festa… E nem poderia, pois correríamos o risco de algumas ressacas, não cresceríamos e acabaríamos entediados.
E então, vem a vez do segundo cardápio, que não escolhemos, mas que em algumas ocasiões temos que engolir e lutar bravamente para conseguir digerir. Nesses momentos sentimos o que você escreve de forma perfeita no post que está relacionado abaixo deste: “Nostalgia de gente grande”. Há momentos em que sentimos uma enorme vontade de voltar para o aconchego, a segurança do útero materno e “ficar lá quietinho, na paz, quentinho, aproveitando o banquete que passa pela placenta, respirando que nem peixe, dormindo e virando cambalhota”.
É assim que nos sentimos quando o caldo entorna, quando no balde não cabe nem mais uma gotinha e ela cai dentro dele, mesmo sem nossa permissão.
Bom seria se pudéssemos ter um cardápio desses que as nutricionistas nos preparam: equilibrado, com alimentos saudáveis, favorecendo nossa saúde, nosso bem estar, com direito a algumas escapadas em dias de festas, porque ninguém é de ferro: “(Mais um brigadeiro, por favor, vou cometer essa heresia.) Eu quero, eu posso, eu mereço”.
Beijo com minha gratidão e grande admiração.
Cris
Renata Feldman diz
Ahhh, Cris, que a nossa tão querida nutricionista em comum nos ouça!… E que não nos falte nunca útero e colo de mãe, mesmo que na saudade e no pensamento, para nos alimentarmos de um afeto que só faz bem!…
Abraço carinhoso, muito obrigada!
Gisele diz
Ouvi! Ou melhor li! Que tenhamos sempre saude, leveza e heresias! Vamos sempre escolher os cardapios que nos trazem alegrias, levezas e nenhum amargor, apenas quando o amargo for valorizar o doce! Um grande beijo a voces duas!!! Gisele
Renata Feldman diz
Falou e disse a melhor nutricionista do Brasil, que além de competente e doutora no assunto é um amor de pessoa!
Obrigada pela visita tão ilustre, e por compartilhar conosco o sabor de cada deliciosa heresia!
Abraço carinhoso!
Rita de Cássia A C V Ribeiro diz
Renata,
Como vc sabe, li um de seus livros antes mesmo de te conhecer e, como não podia deixar de acontecer, fiquei fascinada com sua maneira singular de como usa as palavras… E a cada dia você se supera! Q Deus te abençoe sempre! Em tudo que você faz!
Bjo,
Rita
Renata Feldman diz
Amém, Rita! Muito obrigada, de coração.
Abraço carinhoso, cheio das melhores energias!