E aí então você tira uns dias de férias, ladeada de amigos queridos. Muito especiais e queridos.
E se esses dias acontecem em Miami, em pleno mês de agosto, você logo pensa: sol, praia, coqueiros, calor, muito calor, compras, mais calor, areia branca, mar quentinho, revoada de gaivotas pra arrematar a beleza do lugar. Sonhou?
E aí surge um domingo no meio do caminho. E um convite despretensioso para você conhecer o Memorial do Holocausto. E de repente os seus olhos param.
No meio de um lago habitado de paz, uma mão quase alcança o céu. O antebraço carrega figuras humanas em profunda expressão de dor e desespero. Carrega também um número tatuado, marca inconfundível dos prisioneiros de Auschwitz.
Escultura do Amor e da Angústia, este é o nome do monumento de mais de 12 metros idealizado pelo arquiteto Kenneth Treister com a colaboração de um grupo de sobreviventes do terror. Logo na entrada, a célebre frase de Anne Frank nos amortece: “Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana.”
Nos arredores, mais esculturas. De bronze. Tormenta. Reflexão. Lamento. Esculturas de crianças, velhos, homens, mulheres. Gente de carne e osso. Esculturas de dor, angústia, esperança, amor.
Não guardei o nome da senhorinha judia que gentilmente nos conduziu pelo Memorial, sem nada pedir ou cobrar. Mas vou guardar para sempre a ternura e emoção dos olhos dela ao nos receber naquela manhã de sol escaldante.
– Todo domingo eu venho até aqui com o meu marido e me ofereço para explicar um pouco do Memorial, buscando traduzir em palavras o que vocês estão vendo aqui; para que as pessoas não apenas circulem, e sim apreendam com profundidade a dimensão do que foi construído e vivido.
Minha mão toca a dela, gratidão pela disponibilidade e troca. Olho uma última vez para o grande braço de bronze estendido para o céu, clamando por socorro. Agradeço à Deus, e aos seus grandes braços acolhe-dores, pela capacidade maravilhosa que a vida tem de transformação.
Deixo o lago e vou em direção ao mar, amar essa Miami que num tocante instante de um domingo ficou ainda mais bonita.
Clara Feldman diz
Oi, filha, mais um texto lindo seu. Acompanhado de uma foto que emociona na tela, imagino ao vivo. Adorei o seu “acolhe-dores”. Beijo, parabéns. Amor.
Renata Feldman diz
Ah, mãe. Você tinha que ver!… Não sei se consegui traduzir minha emoção. Lindo de viver.
Tão bom ter você abençoando a minha escrita, a minha vida!… ❤️